Apesar de o mercado ter tido suas rusgas com o então CEO, a notícia é recebida com temores de interferência política na empresa. De acordo com a CNN Brasil, por volta das 12h25, os papéis ordinários da companhia recuavam 6,8%, negociados a R$ 40. Já as ações preferenciais caíam 5,73%, a R$ 38,53. Ao longo da manhã, a Petrobras chegou a apresentar recuo de 8%. Enquanto isso, o Ibovespa caía 0,46%, a 127.918 pontos.
A Petrobras chegou a perder quase R$ 50 bilhões em valor de mercado nesta quarta-feira, após o anúncio de saída de Prates, com as ações preferenciais recuando mais de 8% no pior momento, enquanto as ordinárias desabaram perto de 10% na mínima nos primeiros negócios.
A matéria conta que na noite de terça-feira (14), o mercado recebeu a notícia da demissão de Prates. Por um lado, corre a informação de que a demissão foi movida pelo governo. Mas em comunicado aos investidores, a Petrobras afirma que a saída foi “a pedido” e ocorreu “de forma negociada”.
No documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para informar a indicação de Magda Chambriard para a presidência da empresa, a Petrobras cita que o foi registrado o “pedido do Sr. Jean Paul Prates de encerramento antecipado de seu mandato como presidente da Petrobras”.
Chambriard é engenheira e ex-diretora geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), e foi indicada à presidência da estatal pelo Ministério de Minas e Energia. Ela trabalhou pouco mais 22 anos na Petrobras.
Foi diretora-geral da ANP entre 2012 e 2016, durante os governos Dilma e Temer. O órgão regulador da Petrobras monitora a cadeia das indústrias de biocombustíveis, gás natural e petróleo no Brasil. Antes de chegar à direção, foi assessora e superintendente.
Mas apesar do perfil técnico da indicada, o mercado olha para a queda do CEO com temores sobre interferência política na estatal.
“[A possibilidade de] intervenção aumenta as chances de a companhia ser utilizada mais diretamente como um instrumento político do Executivo”, aponta Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
A notícia não é totalmente estranha devido a recentes crises em torno da gestão Prates, contudo, há uma avaliação de surpresa para os investidores.
“O mercado gosta de previsibilidade, e o fato de ter sido muito surpresa sem um preparo, uma governança, uma meritocracia assusta”, avalia Volnei Eyng, CEO da empresa de consultoria Multiplike.
Desse modo, os analistas se veem incertos quanto ao futuro da estatal.
“A troca de comando na Petrobras sinaliza instabilidade para investidores. A substituição, apesar de pacífica, aumenta a incerteza sobre o futuro da empresa. As políticas de Chambriard, sobretudo a de preços, são cruciais para a percepção de risco dos investidores. A mudança abrupta e motivada por pressões políticas pode impactar a confiança na governança”, explica Fabio Murad, sócio da Ipê Investimentos.
Mas na avaliação do gestor financeiro Marlon Glaciano, especulações quanto a potencial CEO ainda são precipitadas.
“O mercado ainda a estuda e a avalia tendo em vista o grande desconhecimento do seu papel para tal gestão. Será importante aguardar e a avaliar sua gestão e os próximos passos”, pontua Glaciano.
Crise dos dividendos
Para Arbetman, também há dúvidas quanto o futuro da companhia em relação a investimentos, dividendos e preços de derivados.
Em seu relatório diário, o BTG Pactual apontou a crise dos dividendos extraordinários da Petrobras como uma das potenciais insatisfações que levaram à destituição de Prates.
Há cerca de um mês, rumores da demissão de Prates começaram a surgir em meio a debates entre membros do governo sobre a distribuição de dividendos extraordinários referentes ao exercício de 2023.
Em março, ao divulgar que teve lucro de R$ 124,6 bilhões em 2023, a Petrobras informou que o conselho de administração havia aprovado a distribuição de R$ 14,2 bilhões em dividendos.
Inicialmente, em reunião em março, o conselho havia decidido reter 100% dos dividendos extras possíveis em uma reserva estatutária, manifestando preocupações com a capacidade de investimento da empresa.
A decisão repercutiu negativamente no mercado financeiro e expôs entraves entre o presidente e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
A decisão foi revista posteriormente e o conselho de administração da Petrobras aprovou no fim do mês passado a distribuição de R$ 21,9 bilhões, correspondendo a 50% dos dividendos extraordinários.
No final de abril, o presidente Lula afirmou que a Petrobras “nunca teve crise”.
*Da CNN Brasil, com informações da Reuters